Vamos Falar sobre o Autismo

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Muito se fala sobre o Autismo, mas esse transtorno ainda envolve muitos mistérios e muitas dificuldades na sua classificação e tratamento. Proponho, um passeio pelos diversos aspectos deste universo, com o objetivo de auxiliar pais e responsáveis na identificação dos sintomas, causas e tratamentos.

O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um transtorno que afeta o desenvolvimento e acaba comprometendo a capacidade da pessoa de lidar com o mundo que a cerca. Se manifesta logo nos primeiros anos de vida, e é uma espécie de pane do desenvolvimento neurológico. É chamado de espectro por conta das suas variações, que acabam fazendo com que o transtorno se manifeste de forma diferente em cada um. No entanto, alguns sinais são mais frequentes e podem indicar a necessidade de uma avaliação.

Esse transtorno não possui cura e suas causas ainda são incertas, porém ele pode ser trabalhado, reabilitado, modificado e tratado para que, assim, o paciente possa se adequar ao convívio social e às atividades acadêmicas o melhor possível. Quanto antes o Autismo for diagnosticado melhor, pois o transtorno não atinge apenas a saúde do indivíduo, mas também de seus cuidadores, que, em muitos casos, acabam se sentindo incapazes de encararem a situação.

Esse talvez seja um dos grandes enroscos quando se fala do distúrbio. Como o diagnóstico é feito com base em uma lista de sintomas e sinais e no quanto eles comprometem a vida do portador, e sendo eles muitas vezes sutis, um grande número de crianças passa a vida lutando com as dificuldades que apresentam e nunca se descobrirão portadoras do transtorno. Por ser totalmente baseado na observação e no relato dos pais, o diagnóstico nem sempre é acertado na primeira tentativa. Com isso, muitos pais são obrigados a fazer um périplo até chegar ao veredito.

Há exames médicos que podem identificá-lo, mas é mais fácil perceber o quadro dentro de casa. Por isso, é fundamental que os pais conheçam os sinais iniciais de sua manifestação.

No Autismo, especialistas costumam afirmar que existe o que se chama janela de oportunidade para a intervenção, um momento em que agir aumenta grandemente as chances de sucesso, devido ao próprio estágio do desenvolvimento do cérebro.

Por este motivo, o objetivo dos estudos atuais é tentar avaliar, o mais cedo possível, o quanto essas crianças se distanciam do desenvolvimento normal, para mapear como isso vai afetar sua adaptação social e, assim, buscar maneiras de reconstruí-las.

Trazer a criança a um mundo baseado na linguagem verbal e nas relações sociais não é tarefa fácil e depende, e muito, dos pais. Muitas vezes são os próprios adultos que, por medo, colocam barreiras ao desenvolvimento da criança. Assim, parte do tratamento começa em casa. Com a devida orientação e treinamento, os pais podem (e devem) trabalhar para estabelecer uma correspondência com a criança, ainda que ela não esteja interagindo com eles plenamente.

O fato de uma criança ser portadora de Autismo, não significa, necessariamente, que ela não possa desenvolver talentos. Se pensarmos que todos temos fortalezas e fraquezas, podemos concluir que, a criança autista só precisa trabalhar mais as suas fraquezas.

E como identificar esses sinais? Alguns sintomas podem já surgir na primeira infância, como no caso de bebês inquietos, que não dormem a quantidade de horas esperada, choram muito ou só querem ficar no colo, independentemente de quem seja.

Nesse sentido, aliás, a criança autista geralmente não tem muita afeição. Por isso, vai ao colo de qualquer pessoa. Também é preciso observar quando dormem em posições estranhas ou preferem ficar sozinhas no berço em vez de ter contato com os pais (em especial com a mãe).

Crianças com autismo não conseguem se sociabilizar e, sem essa capacidade, acabam se isolando para viver não mais em um mundo em que as pessoas dão a tônica, mas em um mundo em que as coisas, os objetos, são os protagonistas. Esse transtorno Autista afeta o que chamamos de cérebro social, ou seja, por alguma razão as estruturas cerebrais envolvidas no processamento das informações relacionadas à comunicação e à interação social não funcionam bem. Ou seja, a criança tem dificuldade de compreender o mundo tal como ele é, pois este é dominado, justamente, pelas relações entre pessoas. Essa falta de atenção aos estímulos sociais pode explicar alguns dos comportamentos que ocorrem nos autistas, como o interesse centrado em um determinado objeto ou tema.

Abaixo, segue alguns sinais importantes que devem ser observados. Ao identificar qualquer um ou mais sinais, procure um psicanalista, psicólogo, psiquiatra ou um especialista em desenvolvimento infantil.

Entre 2 e 3 meses – Não faz contato com os olhos.

6 meses – Não sorri.

Cerca de 8 meses – Não acompanha você com o olhar quando se afasta dele.

Cerca de 9 meses – Não balbucia palavras. Não estende os braços quando a mãe entra no quarto.

Cerca de 1 ano – Não procura por você quando o chama pelo nome. Não dá “tchauzinho”.

Cerca de 1 ano e meio – Ainda não pronunciou nenhuma palavra inteligível.

Cerca de 2 anos – Ainda não elaborou nenhuma frase com começo meio e fim.

A maioria dos pais de crianças com autismo suspeita que algo está errado antes de a criança completar 18 meses de idade e busca ajuda antes que ela atinja 2 anos. As crianças com autismo normalmente têm dificuldade em:

  • Brincar de faz de conta
  • Interações sociais
  • Comunicação verbal e não verbal
  • Ter visão, audição, tato, olfato ou paladar excessivamente sensíveis (por exemplo, eles podem se recusar a usar roupas “que dão coceira” e ficam angustiados se são forçados a usá-las)
  • Ter uma alteração emocional anormal quando há alguma mudança na rotina
  • Fazer movimentos corporais repetitivos
  • Demonstrar apego anormal aos objetos.

Os sintomas do autismo podem variar de moderados a graves. Os problemas de comunicação no autismo podem incluir:

  • Não poder iniciar ou manter uma conversa social
  • Comunicar-se com gestos em vez de palavras
  • Desenvolver a linguagem lentamente ou não desenvolvê-la
  • Não ajustar a visão para olhar para os objetos que as outras pessoas estão olhando
  • Não se referir a si mesmo de forma correta (por exemplo, dizer “você quer água” quando a criança quer dizer “eu quero água”)
  • Não apontar para chamar a atenção das pessoas para objetos (acontece nos primeiros 14 meses de vida)
  • Repetir palavras ou trechos memorizados, como comerciais
  • Usar rimas sem sentido

Existem diversos sintomas que podem indicar autismo, e nem sempre a criança apresentará todos eles. Entre os grupos de sintomas que podem afetar uma pessoa com autismo estão:

Interação social

  • Não faz amigos
  • Não participa de jogos interativos
  • É retraído
  • Pode não responder a contato visual e sorrisos ou evitar o contato visual
  • Pode tratar as pessoas como se fossem objetos
  • Prefere ficar sozinho, em vez de acompanhado
  • Mostra falta de empatia

Resposta a informações sensoriais

  • Não se assusta com sons altos
  • Tem a visão, audição, tato, olfato ou paladar ampliados ou diminuídos
  • Pode achar ruídos normais dolorosos e cobrir os ouvidos com as mãos
  • Pode evitar contato físico por ser muito estimulante ou opressivo
  • Esfrega as superfícies, põe a boca nos objetos ou os lambe
  • Parece ter um aumento ou diminuição na resposta à dor
  • Não imita as ações dos outros
  • Prefere brincadeiras solitárias ou ritualistas
  • Não faz brincadeiras de faz de conta ou imaginação

Comportamentos

  • Acessos de raiva intensos
  • Fica preso em um único assunto ou tarefa (perseverança)
  • Baixa capacidade de atenção e poucos interesses
  • É hiperativo ou muito passivo
  • Comportamento agressivo com outras pessoas ou consigo
  • Necessidade intensa de repetição
  • Faz movimentos corporais repetitivos
  • Não responder com sorriso ou expressão de felicidade aos seis meses
  • Não imitar sons ou expressões faciais aos nove meses
  • Não balbuciar ou gesticular aos 12 meses
  • Não dizer nenhuma palavra aos 16 meses
  • Não dizer frases compostas de pelo menos duas palavras aos 24 meses
  • Perder habilidades sociais e de comunicação em qualquer idade.

No entanto, mesmo com todas as pesquisas referentes ao Autismo em andamento, ainda não há um medicamento específico para o seu tratamento, bem como uma cura. Porém, há diversas maneiras para se tratar as funções cognitivas e funcionais da criança desde o momento em que foi diagnosticada. Para isso, uma equipe multidisciplinar é importante, pois cada especialista irá trabalhar em um certo tipo de desenvolvimento.

Nas fase de 0 a 2 anos, o acompanhamento da criança com um fonoaudiólogo é essencial, pois isso irá ajudá-la a desenvolver a linguagem não-verbal. A estimulação pode ser feita através de jogos e brincadeiras, contação de histórias e conversas. Terapia ocupacional e comportamental também são relevantes na hora do tratamento, pois assim o cérebro do paciente passa a perceber os estímulos sensoriais. Não há uma regra específica de tratamento, pois cada criança possui as suas particularidades. Portanto, a equipe multidisciplinar decidirá qual o tipo de tratamento que deve ser abordado.

Concluo nosso passeio pelo universo do autista, salientando que, também devemos estar atentos a saúde mental e emocional dos pais ou responsáveis por um autista. Sabemos que cuidar de uma criança autista pode ser, na maioria das vezes, exaustivo não só fisicamente mas também emocionalmente. Por este motivo, destaco algumas dicas valiosas para estes responsáveis; afinal só podemos cuidar bem do outro, se estivermos bem em todos os aspectos. São elas:

1 – Para que o esgotamento seja evitado e, assim, seus relacionamentos pessoais e familiares não sejam afetados, tire um tempo para você relaxar e se exercitar.

2 – Às vezes procurar ajuda com outras pessoas que também enfrentam os desafios proporcionados pelo transtorno pode ser eficiente, devido aos seus conselhos. Procure ver se não há nenhum grupo de apoio em sua região.

4 – Há diversos mitos e equívocos sobre o Autismo. Portanto, é sempre bom se informar sobre a questão para que você possa ajudar o seu filho da melhor maneira possível.

Enfim, quanto mais informação tivermos sobre o Autismo, mais rápido podemos identificá-lo e iniciar um tratamento. Acolher, cuidar e respeitar são os pilares básicos para o Autismo.  Apenas um diagnóstico não define um autista. O autismo é a característica da  personalidade e não limita a potencialidade do indivíduo. Os comportamentos podem não fazer parte dos padrões que esperamos ou entendemos como “normais”, mas o jeito de ser de um individuo não o torna inferior a ninguém. O autismo pode não ter cura, mas só depende de nós o quanto de compreensão e paciência podemos oferecer ao outro.

 

Andréa Ladislau

Psicanalista

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